Burkina Faso: Levantes populares e Thomas Sankara
- Rafaella Santana
- 10 de fev.
- 5 min de leitura

Esse texto foi publicado em 17/11/2014 no site do Kilombagem (http://kilombagem.org/burkina-faso-thomas-sankara-e-os-levantes-populares/)
Viver africano para viver livre e digno.
Pode-se matar líderes revolucionários, mas as ideias permanecem
Thomas Sankara
A forma como a imprensa vem divulgado os recentes levantes populares em Burkina Faso contra o Presidente Blaise Compaoré, estimula me produzir este pequeno texto introdutório ao som de Orun Aye por BA Kimbuta, na esperança de ressuscitarmos, resgatarmos e apropriarmos da história de luta do revolucionário líder africano Thomas Sankara, ocultado e negado pelos grandes meios de comunicações, esquecido por uma boa parte da esquerda e pelo movimento negro.
A região de Alto Volta até 1960 foi colonizada e explorada pela França. Sem acesso ao mar, cercado ao norte pelo deserto, a região está localizada no Oeste da África. Após a independência o país não teve significativos avanços devido a sucessão de governos corruptos e submissos a França. Após um golpe popular liderado por Thomas Sankara em 1983, ele rebatiza o país em Burkina Faso que significa “o país dos homens íntegros” e modifica radicalmente e positivamente as políticas do país.
Thomas Sankara assumiu o poder muito jovem, com apenas 33 anos. Era um chefe de estado muito dinâmico e inovador. Ele utilizava um discurso marxista e tinha ideias progressistas a serviço do povo. Thomas Sankara empreende uma série de medidas inéditas no continente. Algumas delas foram: Ele reduz o seu salário de chefe de estado, o de ministro e dos altos funcionários. Ele decreta que todos os ministros viajassem na segunda classe. A série de medidas muda a cara do país. Para criar um pais mais justo, ele se permite pisar no freio. Ele põe fim do imposto colonial e questiona o poder do chefes tradicionais sobre os campesinos. Sobre a aparência comunista Sankara educa a população através de slogans políticos e lhe dá sobretudo a oportunidade de participar da construção do país. Thomas Sankara tirou seu país da miséria, alcançou a auto suficiência alimentar mas se choca com a França que quer manter o controle sobre as antigas colônias que tenta de todas as maneiras evitar que as ideias de Sankara se propaguem por toda a região.
Em 1984, no fim de um ano de reformas fundamentais, uma revolução cultural está em andamento. Ele cria um verdadeiro choque ao tomar se um dos primeiros chefes de estado do mundo a militar pela emancipação feminina. Houve realmente uma política ou pelo menos uma intenção de fazer um política para incluir a mulheres na categoria dos seres humanos.
Numa época em que as doenças dizimam aos africanos, Sankara põe em ação uma campanha de vacinação que erradica a pólio, o sarampo, e a meningite. Dois milhões e meios de burkinabenses são vacinados em uma semana. Ele implementa um processo de esportes de massa que convida cada habitante a praticar esportes uma vez por semana.
Nas cidades, onde a população se obrigava em casebres, ele lança a construção de alojamentos sociais, e reabilita outras áreas. Ele lança o que denominam de “A batalha dos trilhos”. Constroem uma linha que ligou Ouagadoubou às minas de manganésio, situada ao norte do país, a várias centenas de quilômetros de distância. Ele estava convencido que era preciso usar prioritariamente os recursos do país para não depender das importações. O projeto de Sankara era mais autonomia, de criar uma forma de autonomia para o país, uma forma de utilizar os produtos do próprios país.
Em África uma reforma agrária implicando na transformação de propriedade, retirando o poder dos tradicionais donos da terra. Ele venceu a fome. Ele fez com que Burkina fosse em quatro anos alimentar mente auto suficiente. Para relançar a produção de algodão local, ele lança a moda de Faso Danfam, vestimenta de estado.
Na Cúpula da ONU – Organização da Unidade Africana, Sankara aborda questões como a dívida que atinge o conjunto de países do Terceiro Mundo, cujos juros acabam de subir um aumento substancial. Seu discurso aponta também o dedo para todos os dirigentes que em nome de um sistema de dominação Norte Sul degradam o seu próprio povo, ao mesmo tempo que fazem fortunas pessoas.
Estamos em 1987, Sankara não responde às demandas de uma parte da população, que aspira a mais liberalismo, Blaise Compaoré sempre o número 2 no poder lucra com esse descontentamento diretamente apoiado por Félix Houphouet Boi Gny, e indiretamente pela França. O regime naquela já era muito impopular, estava enfraquecido, e no interior, aumentava as dissenções internas. Havia um clima de confiança muito grande entre as diferenças tendências das fações no centro do poder. Poderíamos resumir duas grandes tendências, a clã de Thomas Sankara e havia o clã de Blaise Compaoré.
Em 15 de Outubro de 1947, Thomas Sankara é surpreendido em plena reunião, com uma dezenas de colaboradores. Elementos da guarda próxima a Blaise Compaoré entraram e atiram em todos que estavam reunidos na sala. Na manhã seguinte, Compaoré se auto proclama presidente. Na imprensa internacional, ele procura se eximir da morte do seu melhor amigo. Os governos francês e marfinense o felicitam. Ele institui o que ele chama de retificação da revolução e fez crer que pereniza as ideias de Sankara.
A reputação de Sankara é enterrada na lama. Acusam o de ter enriquecido no poder. Reviram a casa dele a procura de qualquer sinal de enriquecimento. Sankara morreu da mesma forma que viveu com os bolsos vazios. O que restou para família foram alguns objetos pessoais abandonados no seu quarto de estudo. Os arquivos oficiais desapareceram aos traços de sua passagem pelo poder.
Ele é atacado por aqueles que lucram financeiramente com uma África atrasada.
O país estagna na pobreza. O nível de vida dos habitantes é catastrófica. Considerado como um reservatório de mão de obra barata, eles são convidados a trabalhar no país vizinho, a costa do Marfim, verdadeiro celeiro africano de onde a França retira a maior parte da sua riqueza tropical.
Vejamos os principais pontos focados pelos meios de comunicações sobre os protestos em Burkina Faso, a reportagem do Jornal o Globo destaca a preocupação da União Europeia com os confrontos e se diz pronta a intervir para facilitar o processo. O Estadão destaca a renúncia do Presidente Blaise Compaoré e os protestos contra o presidente. Já a BBC também destaca a renúncia do Compaoré, a divergência entre o exército de Burkina Faso no governo de transição, e o anúncio que o tenente-coronel Isaac Zida assumiu interinamente a presidência do país após a renúncia do Compaoré.
O preocupante é tanto Paris quanto Washington não protestaram contra a saída de Compaoré e preferiram se concentrar em pedidos para que os militares garantam o processo democrático. Ao que me parece é que se o novo líder empossado for aliado da casa branca e da Europa Ocidental não há problema com a denominada “transição para um processo democrático”.
Hoje Burkina Faso é um dos países mais pobres do mundo e ocupa a 181ª posição no ranking de Desenvolvimento Humano da ONU. O país é um importante aliado dos EUA e onde ficam estacionados regimentos de forças especiais do Exército Francês.
Foi anunciado o paradeiro do ex-presidente Compaoré e sua família, eles buscaram refúgio na vizinha Costa do Marfim.
Reconheço suas limitações, e poderia ter exposto neste texto, mas como não era o objetivo, deixo para os que já se dedicam a bater e a negar a luta revolucionária. Mas vale uma reflexão: Se todos que se dedicaram e aderiram a luta revolucionária tiveram contradições e limitações, por que seria diferente com Thomas Sankara? Para além de respostas idealistas e utópicas, não deixemos o espirito corajoso, criativo e revolucionário de Sankara se perder em cada um de nós.
De punho cerrado, dedico este humilde texto aos levantes populares em Burkina Faso ao som de You No Go Die ..... Unless por Fela Kuti.
Referências:
コメント